terça-feira, 19 de julho de 2011

Confirmação do suicídio de ex-presidente
encerra episódio da história chilena

Havia a suspeita de que Salvador Allende tivesse sido morto por soldados de Pinochet
EFE
Salvador Allende-Chile30.04.1971/AFP
Versão oficial da morte afirma que Allende cometeu suicídio quando sofreu golpe de Estado

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A confirmação de que o presidente chileno Salvador Allende se suicidou no dia 11 de setembro de 1973, durante o bombardeio ao Palácio de La Moneda, contribuiu para fechar um emblemático episódio da história recente do país, sobre o qual pairavam algumas dúvidas.
O SML (Serviço Médico Legal) do Chile divulgou nesta terça-feira (19) o resultado de um relatório científico, solicitado pela Justiça, que concluiu que o presidente se matou durante o golpe militar liderado por Augusto Pinochet, tal como sustentava a versão mais conhecida, defendida também por sua família.
A filha do político, Isabel Allende, disse que ele, “diante das circunstâncias extremas em que viveu, tomou a decisão de se suicidar antes de ser humilhado ou viver qualquer outra situação”. Isabel, que é senadora, agradeceu o trabalho dos especialistas e declarou que a conclusão dará tranquilidade à família, que sempre acreditou na versão dos médicos de que Allende estava sozinho em seu escritório no momento de sua morte e não houve intervenção de terceiros.
Frente à versão do suicídio surgiu a hipótese de que o ex-presidente poderia ter sido assassinado pelos militares golpistas que atacaram La Moneda (sede de governo) após bombardeá-lo e incendiá-lo, ou que o ex-presidente falhou ao tentar suicídio e acabou sendo morto por um de seus colaboradores próximos.
O documento foi entregue ao juiz da Corte de Apelações de Santiago Mario Carroza, encarregado da investigação judicial, que agora deverá estudá-lo. O relatório, de mais de cem páginas, foi elaborado pelo SML e cinco especialistas estrangeiros, com a colaboração da Polícia de Pesquisas, e a conclusão foi unânime.
Os exames confirmam "um só ferimento" que causou a morte de Salvador Allende, disse o diretor do SML, Patrício Bustos.
De acordo com o médico espanhol Francisco Etcheverria, "a lesão que existe no encéfalo aconteceu em consequência de um disparo com arma de fogo, com um fuzil que estava praticamente apoiado na mandíbula, na parte inferior, no queixo".
O perito balístico britânico David Pryor disse que a arma usada foi um fuzil AK-47, presente do líder cubano Fidel Castro, que foi perdido após o golpe. O especialista afirmou que "há evidência de duas balas", ambas disparadas em um mesmo movimento, pois a arma estava em posição automática, o que permite disparar várias balas por segundo.
– Há dois cartuchos da mesma arma, mas foi encontrada apenas uma bala. Não temos nenhuma pista de onde está a segunda.
Bustos explicou que o trabalho pericial teve quatro fases: a comprovação da identidade do corpo exumado, a causa de morte (ferimento de projétil), a forma (suicídio) e a circunstância (golpe militar).
Durante esse processo, foram realizados exames odontológicos e genéticos e perícias antropológicas e balísticas, nas quais colaboraram antropólogos, arqueólogos, geneticistas e especialistas em balística e em ciência legista.
O diretor do SML disse esperar que essa “seja uma etapa importante na busca pela verdade, como em outros casos de violações aos direitos humanos, para dar espaço à Justiça, que é o que necessita a sociedade chilena”.
Atendendo a um pedido do governo chileno, os exames foram observados pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, que validou "completamente e com total certeza a qualidade do processo. Carroza ouviu nas últimas semanas vários oficiais da Força Aérea para averiguar o nome dos pilotos que bombardearam La Moneda e ordenou exames em dois fuzis, diante da possibilidade que um deles seja o usado por Allende.
Com essas descobertas e o relatório entregue nesta terça-feira, o juiz deverá estabelecer a verdade judicial que fechará um dos episódios mais sangrentos da história do país, que 38 anos depois ainda continuava imerso em dúvidas.
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