SÃO PAULO (Reuters) - É difícil a vida dos diretores que decidem adaptar para o cinema personagens celebrizados pelas histórias em quadrinhos. Se são extremamente fieis ao personagem, podem desagradar aos espectadores comuns, que esperam ver apenas um bom filme e não uma prova de reverência à legião de seguidores da obra original.
Se ousarem recriar o personagem, correm o risco de serem fulminados pelos fãs, inconformados com o excesso de liberdade tomada.
No caso de 'Dylan Dog e as criaturas da noite', trazido às telas diretamente do gibi criado pelo italiano Sanzio Sclavi, o diretor Kevin Munroe corre o risco de desagradar a gregos e troianos. O herói representado pelo ator Brandon Routh não respeita as características do personagem e o resultado final não se traduz em uma boa sessão de cinema.
Dylan Dog, criado nos anos 1980, é objeto de culto na Itália. Suas histórias, em preto e branco, característica marcante dos fumetti (gibis) italianos, ganham todos os anos novas edições na Itália e fazem relativo sucesso editorial nos Estados Unidos e até no Brasil, onde é disputado por colecionadores que mantêm fóruns de discussão na internet.
As aventuras do detetive do pesadelo, como é conhecido, têm um pé no realismo fantástico e outro, no terror explícito, com uma boa dose de humor negro. Algumas dessas características são preservadas no filme, mas o resultado final fica aquém das expectativas.
As criaturas da noite citadas no título são vampiros, lobisomens, zumbis e toda sorte de mortos-vivos que circulam livremente pelas ruas de Nova Orleans, como uma espécie de habitantes particulares.
Por um pacto firmado no passado, não atacam os humanos e se mantêm discretos trabalhando em atividades normais como restaurantes, açougues e não tão normais assim, como supermercados para revenda de órgãos humanos usados para zumbis necessitados de peças sobressalentes.
Dylan, como é explicado para os não aficionados, circula entre esses seres como uma figura de respeito. No passado ele era uma espécie de guardião que fazia a ponte entre os dois mundos e os mantinha em equilíbrio.
Mas, na Nova Orleans de hoje, ele vive uma espécie de aposentadoria, cuidando apenas de casos comuns, como investigações de adultério, com a ajuda de Marcus (Sam Huntington), encarregado das fotos comprometedoras que comprovam as puladas de cerca das esposas de seus clientes.
Na história original, esse personagem era representado por um atrapalhado sósia de Groucho Marx, que propiciava um alívio cômico durante as investigações e ainda ajudava Dylan a sair de enrascadas.
A rotina de Dylan é quebrada com o assassinato de um misterioso empresário por um lobisomem. Contratado pela filha do homem, Elizabeth (Anita Briem), Dylan começa a se preocupar com a escalada de violência que passa a envolver outras criaturas da noite, em conseqüência do primeiro crime. As investigações também remetem ao próprio passado do detetive e trarão revelações sobre o motivo pelo qual ele havia sido afastado do mundo bizarro.
Não espere grandes efeitos especiais na criação dos monstros que Dylan encontrará pelo caminho, mas divirta-se com algumas piadas envolvendo a difícil adaptação de um humano à condição de zumbi, após sua morte. O diretor homenageia o criador do personagem dando seu nome a um velho vampiro.
(Luiz Vita, do Cineweb)
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